quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A Menina que Roubava Livros, de Markus Zusak (Jan/2013 - Tema Livre)

É engraçado que, tentando escrever uma resenha sobre um livro que dá tanta importância e beleza às palavras, elas faltem e se evaporem com tanta facilidade.

A Menina que Roubava Livros é inexplicável. Um livro que
todos deveriam ler, sem sombra de dúvida. Um livro que encanta pelo enredo, pelos personagens, pela poesia escondida em cada frase...

Talvez o que eu deva mencionar primeiro seja que a Morte é a narradora. Isso a princípio parecia bem mórbido, mas acaba não sendo. Essa narradora é fantástica, emprestando à história um ponto de vista totalmente diferente de qualquer coisa que você já tenha visto. O jeito como as coisas são contadas tem um ar diferente. E ela é a maior contadora de
spoilers do Universo! No meio do livro, grandes partes do final são reveladas assim, sem mais nem menos. Mas, incrivelmente, você fica surpreendido no final mesmo assim.

A estrutura do livro se dá com um prólogo, dez partes e um epílogo. As partes são os nomes de livros que são de grande importância para a roubadora de livros, Liesel Meminger. O prólogo mostra como a Morte encontrou Liesel por três vezes. Aliás, a Morte tende a associar cada vez que chega a uma pessoa com uma cor. Assim, as três vezes que ela encontra Liesel são associadas ao branco, ao preto e ao vermelho, montando uma bandeira... a nazista.


Para mim, em A Menina que Roubava Livros, há sete personagens principais. Vou tentar falar um pouco sobre cada um e assim explicar o enredo.


A Morte
– ela é uma mistura perfeita do narrador distante da ação, onisciente, e ao mesmo presente, passeando pelos personagens, revelando suas ideias e pensamentos, levando os que amamos... É ótima em interromper a narrativa com “fatos”, “notas” e “estatísticas”. Em suas próprias palavras:
Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo. (...) A pergunta é: qual será a cor de tudo nesse momento em que eu chegar para buscar você? Que dirá o céu?

Liesel Meminger
– a “roubadora de livros”. Liesel começa o livro com dez anos, sendo levada junto com seu irmãozinho por sua mãe para morar com pais adotivos em uma cidadezinha chamada Molching. No caminho, entretanto, seu irmão morre (onde a Morte encontra Liesel pela primeira vez). No enterro do menininho, um dos coveiros deixa cair um livro, “O Manual do Coveiro”, e Liesel o pega. É seu primeiro roubo. Com o passar da história, as palavras continuam a ter um efeito em Liesel, cada vez maior. Liesel escreveu:
Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito.

Hans Hubermann –
o “acordeonista” e o “cumpridor de promessas”. É o pai adotivo de Liesel. Quando ele percebe que a menina tem pesadelos devido à morte do irmão, senta-se ao seu lado por madrugadas inteiras e ensina-a a ler. Foi Hans quem ensinou Liesel a amar as palavras primeiro. Ele é pintor, mas também toca seu acordeão. Acho que nada melhor para descrever Hans do que algumas palavras da Morte:
Em 1933, noventa por cento dos alemães manifestavam um apoio resoluto a Adolf Hitler. Isso deixa dez por cento que não o manifestavam. Hans Hubermann fazia parte dos dez por cento. Havia uma razão para isso.

Rosa Hubermann –
a “roncadora”. É a mãe adotiva de Liesel. Inicialmente um pouco assustadora por xingar tudo e todos, mas com um excelente coração. De personalidade forte, mas doce e corajosa ao mesmo tempo, Rosa é uma personagem inesquecível.
Ela possuía a habilidade singular de irritar quase todas as pessoas que encontrava. Mas realmente amava Liesel Meminger.

Rudy Steiner
o “maluco que se pintara de preto e derrotara o mundo inteiro” e “Jesse Owens”. Rudy tem olhos azuis esbugalhados e cabelos tão amarelos quanto limões. Ele demonstra toda sua personalidade logo no início do livro, implorando um beijo de Liesel. Ela retribuiu xingando-o de Saukerl  (aprendido, sem dúvida, de Rosa). Eles jogam futebol, roubam comida e livros, xingam um ao outro, aprontam na Juventude Hitlerista, xingam mais um pouco, e por aí vai...
UMA COISA PIOR DO QUE UM MENINO QUE DETESTA A GENTE: Um menino que ama a gente.

Max Vandenburg –
o “lutador”. Amava briga de rua na infância. Aos 24 anos, teve de se esconder dos nazistas, por ser judeu. Uma velha promessa e um acordeão o atam aos Hubermann e a Liesel Meminger. A relação que ele trava com essa família é de arrepiar de tão linda. Sua atitude com relação à Morte e o próprio julgamento dela quanto a isso são inesquecíveis:
- Quando a morte me pegar – jurou o menino -, vai sentir meu punho na cara.
Pessoalmente, gosto disso. Desse heroísmo idiota.
É.
Gosto muito disso.

As palavras
– sim, eu acho as palavras personagens importantíssimas do livro. Por quê? Porque, sem o jeito maravilhoso como elas se mexem pelas linhas, a história simplesmente não seria a mesma. Porque elas transformam a vida de Liesel de forma inimaginável. Porque elas confortam durante bombardeios. Porque fogueiras com livros parecem assassinatos. Porque palavras são escritas em lixas de parede e nas paredes de um porão. Porque histórias lindas brotam das páginas pintadas de Mein Kampf. Porque um bando de fanáticos não consegue destruí-las.
Markus Zusak é o autor dessa obra de arte, nas suas mãos as palavras são colocadas de maneira quase que mágica. O livro tem poesia, conforme meus olhos foram percorrendo as linhas, pude ver as palavras correndo, parando abruptamente, dançando, sorrindo, chorando e gritando. Para quem gosta de colecionar frases (que é o meu caso), é preciso ter cautela, se não pode acabar copiando quase toda a obra.

Se você ler esse livro, vai ver as reflexões da morte sobre os humanos, as confusões de Rudy e Liesel nas escolas nazistas, o medo de Max e dos que o amam, o poder dos livros, como o povo alemão também sofreu com a guerra e muito mais. É um livro para pensar, rir e chorar.

Enfim, para resumir...

“Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.”

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