quinta-feira, 31 de outubro de 2013

3096 dias, de Natasha Kampusch (outubro/2013: histórias de superação)

Resenha de Ana Britto
 
Natasha é uma moça austríaca, de Viena, que foi raptada por um homem vinte anos mais velho que ela quando tinha 10 anos de idade. Ela foi mantida prisioneira, no porão da casa dele, por oito anos e, aos 18 de idade, conseguiu fugir, sozinha, por sua própria conta, num momento de descuido de seu raptor. O título do livro diz exatamente a quantidade de dias em que ela foi mantida em cativeiro.
 
Várias coisas me chamaram a atenção neste livro: a consciência de Natasha de sua psiquê, de sua relação diferente com o raptor (único ser humano em sua vida durante aqueles oito anos),  de como pode crescer como pessoa e de como decidiu seu futuro, ou seja, sua fuga. Ela relata suas inseguranças infantis, a vida que tinha antes do sequestro, como teve que enfrentar seus medos e aprender rapidamente como lidar com aquele homem tão mais velho e ao mesmo tempo tão incoerente (capaz de raivas e castigos impensáveis) e, sem expor sua privacidade, nos mostrar como pode crescer e amadurecer.
 
É interessante salientar que o raptor tinha interesse em ter uma companhia/parceira inteligente e culta, embora totalmente subjugada a ele, uma escrava em suas próprias palavras. E para isso, ele providenciou livros de leitura clássicos, música e depois de alguns anos, quando já se sentia mais confiante com a submissão de Natasha, até uma estação de rádio educativa. Mas como parte da lavagem cerebral que julgava necessária para mantê-la submissa, ele fazia questão de afirmar e reafirmar a falta de amor e importância dela na família e na sociedade em geral.
 
O livro termina logo após a narração de sua fuga e ficamos com a alma lavada de pensar que finalmente aquela brava moça, que conseguiu se manter inteira naquela situação totalmente inóspita, não só em termos físicos mas também psicológicos, está livre daquele monstro e da prisão que ele criou pra ela.