segunda-feira, 30 de abril de 2012

AS BOAS MULHERES DA CHINA - XINRAN - LIVRO 1

Resenha escrita por Sueli Couto

AS BOAS MULHERES DA CHINA - XINRAN - LIVRO 1

O livro As boas mulheres da China é escrito por uma jornalista chinesa, Xinran, que foi apresentadora de um programa de rádio “Palavras na brisa noturna" em Nanquim até por volta de 1997. Neste programa, que começou em 1989, ela discutia vários aspectos do cotidiano e sugeria meios de lidar com as dificuldades da vida e tentava, neste lento processo de abertura da China, ajudar as pessoas a desabafar.

Recebeu muitas cartas de mulheres chinesas que viviam de forma sofrida e enfrentavam muitos problemas. A partir daí sente necessidade de saber mais sobre a vida intima das chinesas e começa a pesquisar os seus diferentes antecedentes culturais. Durante oito anos, Xinran, coletou muitos relatos sobre a vida da mulher chinesa, na tentativa de entender a condição feminina na China moderna.

São relatos tristes, fortes e chocantes sobre a condição feminina na China, sob o regime socialista em época de Revolução Cultural.

São histórias comoventes como as da menina que desenvolveu uma relação de afeto com uma mosca pela leveza de seu toque, o único toque gentil que recebeu na vida; da universitária fria, fruto de nova geração, criada num lar sem afeto e sem emoção; da catadora de lixo que viveu totalmente por seu filho e lhe permitiu ver seu coração; da menina que foi criada como um menino e, depois de estuprada por um grupo de homens, apaixona-se por uma ativista homossexual que lhe ensinou sobre os prazeres da sexualidade; da filha de um general considerado traidor na época da Revolução, que enlouquece e os homens aproveitam-se dessa fraqueza e estupram a menina inúmeras vezes até que a família a encontre em um estado de quase catatonia e passa a vida internada; de casamentos arranjados pela revolução e muitas outras.

Destaco entre tantas histórias, a que mais me tocou: o relato das mães que sofreram um terremoto.

Um relato extremamente doloroso de perdas, comoção, solidariedade, sofrimento e violência. Após ler este relato, assim como Xinran, chorei muito diante de uma situação muito difícil de aceitar e de tanto sofrimento e impotência.

A escritora relembra também sua dolorosa infância e por fim, narra o motivo que a fez abandonar a China e se mudar para Londres.

O livro foi inspirado em perguntas que uma universitária lhe propôs quando se encontraram: ''Qual é a filosofia das mulheres? O que é a felicidade para uma mulher? E o que faz uma boa mulher?''

O que dizer após ler sobre tantas barbáries, sobre uma política que pensa ter o poder de dizer o que o cidadão deve pensar e sentir, dos preconceitos, as desigualdades, o desrespeito? Uma tristeza profunda, uma incredulidade, uma impotência.
Um livro emocionante, belo, denso, profundamente triste mas também informativo e que vale muito a pena ser lido.

Frases
“Quando alguém mergulha nas próprias recordações, abre uma porta para o passado; a estrada lá dentro tem muitas ramificações e a cada vez o trajeto é diferente.”

“É mesmo? Você gosta dessa canção?
Sim, gosto, gosto muito. Tanto da letra quanto da música, especialmente tarde da noite. É como um quadro composto a perfeição.”

“Depois que deixam este mundo, as pessoas ficam vivas nas lembranças dos que ficam. As vezes se pode sentir a sua presença, ver-lhes o rosto ou ouvir a voz delas.”

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