terça-feira, 3 de setembro de 2013

O vermelho e o negro, Stendhal (Jul/2013 - Cor ou cores no título)

Resenha de Ana Britto

Livro curioso este, com citações clássicas antes de cada capítulo, que a mim causaram mais estranheza do que compreensão, mas que me impressionou pela crítica à hipocrisia generalizada na sociedade. A descrição das estratégias e dos raciocínios maquiavélico dos personagens fizeram com que este romance estivesse presente também na lista de romances psicológicos.
Julien Sorel sonhava em ser soldado de Napoleão, a quem idolatrava, mas acaba tornando-se padre, carreira destinada aos inteligentes e estudiosos. Ele era um rapaz bonito e extremamente pobre e soube aproveitar as oportunidades que lhe foram oferecidas, tornando-se respeitado. Suas observações sobre a vida da corte, sobre as pessoas são marcantes, assim como seu plano para conquistar a mulher desejada, quase que por puro capricho. Mas é o velho ditado de que o feitiço pode virar contra o feiticeiro que vinga. Ao conquistar a mulher desejada, que por acaso também era proibida, ele se torna refém de avassaladora paixão. E após reviravoltas mil essa paixão acabará por destruí-lo.
Embora esta estória se situe num período histórico distante (após a Revolução Francesa), as observações de seus personagens sobre os acontecimentos sociais e seus personagens é surpreendentemente atemporal. Como por exemplo este parágrafo da versão da coleção Imortais da Literatura Universal, da Nova Cultura,  tradução de Maria Cristina F. Da Silva, na página 258:
“Tal é ainda, mesmo neste século aborrecido, o império da necessidade de se divertir que, mesmo nos dias de jantares, mal o marques abandonava o salão, toda a gente desaparecia. Contanto que não se brincasse nem com Deus nem com os padres nem com o rei nem com os artistas protegidos pela corte nem com tudo que é estabelecido;  contanto que não se falasse ....... do que parecesse liberdade de opinião;  contanto que, sobretudo, não se falasse nunca de política, podia-se livremente discorrer sobre qualquer coisa.”

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