segunda-feira, 15 de julho de 2013

S. Bernardo, de Graciliano Ramos (Jun/2013 - Romances Psicológicos)

Resenha escrita por Débora Paias


    Meu interesse por S. Bernardo começou quando eu ouvi dizer que a história é bem parecida com Dom Casmurro, um dos meus livros favoritos. Eu já havia lido Vidas Secas do Graciliano Ramos e tinha amado, então S. Bernardo sempre esteve na minha listinha de livros a se ler.
    S. Bernardo é narrado por Paulo Honório, a criatura mais mal-humorada que existe no mundo. O princípio do livro é muito parecido com Dom Casmurro: ele nos conta sua intenção de escrever um livro narrando sua vida e os esforços que faz em tentar alcançar esse objetivo. Interessante foi uma conversa dele com um dos amigos de quem ele pede ajuda para escrever. Esse amigo dizia que não podia se escrever como se fala, mas Paulo Honório vai contra. É o que ele vai fazer, escrever como se fala, o que nos faz acreditar numa ideia de verossimilhança, quando sabemos que pode não ser bem assim.
    Paulo Honório não teve família. Através de muitas tramoias, conseguiu adquirir a propriedade de S. Bernardo, uma fazenda no nordeste. A fazenda prosperava bem, ele conseguiu ficar “bem de vida”, até que de repente decide que quer se casar. Ele não sabe bem com quem, até conhecer Madalena. Madalena é uma professora, muito melhor instruída do que Paulo Honório, uma pessoa boa e que ajuda os outros. É da divergência entre essas personalidades e com muitos delírios de ciúme que a história vai sendo construída.
    A história lembrou Dom Casmurro em diversos pontos. Primeiro, os dois narradores são realmente bem parecidos e os seus propósitos de preencherem o vazio de suas vidas escrevendo também são os mesmos. Os ciúmes de ambos também são bem parecidos. Vale a pena ler os dois livros e fazer uma comparação.
    O modo psicológico como a história é narrada também é bem interessante. Há capítulos onde delírios se misturam com as lembranças. Somos conduzidos junto com os pensamentos de Paulo Honório, pensamentos estes bastante confusos e atordoados, que nos fazem sentir como ele.
    Achei S. Bernardo uma leitura bem fluida. Embora esteja cheia de termos meio desconhecidos, vindos do nordeste brasileiro, dá para acompanhar o contexto sem ter que parar muito para ir ao dicionário. Os capítulos são bem curtinhos, o que ajuda bastante também.
    Enfim, S. Bernardo é uma história de como um homem pode ter tudo, mas de repente sua personalidade hostil põe tudo a perder. É uma história de como a felicidade às vezes está bem a frente, mas não se percebe. É uma história amarga de culpa e remorso.
   

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