quinta-feira, 31 de maio de 2012

O LIVREIRO DE CABUL - AUTORA - ÅSNE SEIERSTAD (Maio/2012 - Tema: Fatos Históricos)

O LIVREIRO DE CABUL - AUTORA - ÅSNE SEIERSTAD (SUELI COUTO RESENHA 6)

Esta semana comecei a ler este livro, pelo LV do skoob, pois tenho prazo para devolver, quando percebo que se encaixa no tema do mês. Fiquei muito feliz com a coincidência.
Åsne Seierstad, a autora, é uma jornalista que após a queda do Talibã vai para Cabul e conhece Sultan Khan em 2001. Dono de uma livraria, eles conversam muito, ela compra alguns livros e após ele contar algumas passagens de sua vida ela tem a ideia de morar na casa dele com sua família para escrever a história deles. O livro conta a história de Sultan Khan que nasceu numa família pobre e cresceu nos anos 50 na periferia de Cabul. Seus pais não sabiam ler, mas o mandaram para a escola e desde que recebeu seu primeiro livro na escola ficou fascinado por eles e a história de seu país. Trabalhou duro e economizava tudo que podia para comprar livros. Se formou em Engenharia mas sua mania por livros o arrancou do mundo das construções, e ele viajava, comprava e vendia os livros. Compra livros de todos os assuntos: didáticos; científicos; de história; artes; poesia e acreditava que todas as vozes deviam ser ouvidas.

Relembra os anos 70, a oscilação da sociedade entre o moderno e o tradicional, o crescimento das universidades, os protestos, as lutas armadas, a estagnação da economia, repressão, é nesta parte que a história de Sultan floresceu. Nesta época de repressão ele é delatado, preso, espancado, por mais de uma vez, mas sempre consegue subornar algum guarda e ler na prisão. Os livros eram a vida de Sultan. A história relata a invasão russa, a invasão de Cabul, à fuga para o Paquistão, o saqueamento de sua livraria, a queima de livros.Volta a Cabul após o 11 de setembro e a queda do Talibã e com isso ele poderia finalmente encher as prateleiras com os livros que quisesse.

Junto a luta de Sultan para manter sua livraria o livro relata também a história de seus outros familiares como a primeira esposa Sharifa que se sente humilhada quando ele resolve se casar com uma segunda mulher bem mais jovem e bonita; de Saliq que é castigada por se encontrar com um rapaz sozinha que não foi escolhido por sua família para ser seu marido; de Jamila que foi morta por seus próprios irmãos a mando de sua mãe em nome da honra da família; de Bibi Gul sua mãe, uma mulher forte e com poderes de decisão; de Sonia a nova esposa que tem privilégios; de Mansur e sua revolta pelo pai; de Leila sua irmã que lutam para mudar seu próprio destino; e por trás deles a situação política do Afeganistão dividido por chefes tribais que querem manter seus próprios interesses.
Relata também a situação precária que a população vive, a fome, o desemprego ou subemprego, a segregação sexual, o islamismo, o autoritarismo, as desigualdades, os costumes, os rituais, a injustiça com a s mulheres, o suicídio, a falta de esperança...

O mais marcante, contraditório ou incoerente é que apesar de ser um homem culto, apaixonado pelos livros e bem informado Sultan é um ditador nas relações familiares, casou-se uma segunda vez como permite a tradição mulçumana, embora as mulheres de sua família não concordassem com um segundo casamento. Tira os filhos da escola e os obriga a trabalhar nas livrarias por doze horas seguidas, mesmo contra a vontade deles, maltrata suas irmãs, é duro em seus julgamentos e irredutível em suas opiniões.

Um livro muito bom.

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